Quem nunca quis sentir-se dono do seu próprio destino? Esse é o desejo pela liberdade, inerente ao ser humano, direito pelo qual as pessoas batalham para conseguir e que foi negado a muitos através da História. As mulheres lutam até hoje para terem direitos iguais aos dos homens. Há mais de 3500 anos, um grupo de mulheres da Mesopotâmia, as naditus, se reuniam em uma comunidade/instituição que, por ironia do destino, apesar de ter como nome claustro (gagûm no original), assegurava a elas terem uma liberdade ímpar, que era inacessível ao resto das mulheres da Mesopotâmia e até mesmo da Antiguidade.
Representação egípcia de uma mulher da Mesopotâmia que pelas vestimentas era de um grupo abastado da sociedade mesopotâmica. |
O claustro, que possuía uma natureza essencialmente religiosa, existiu em algumas cidades, como Babilônia, Nipur, Sippar e Quich, durante o primeiro período babilônico (entre aproximadamente 1800 e 1550 antes de Cristo). Existia um claustro em cada uma dessas cidades, com cada um contando com pelo menos 100 naditus, provenientes de famílias abastadas e, até mesmo, de família real. Curiosamente, não era necessário a mulher ser natural da cidade do claustro para ingressar nele. Cada um era dedicado a uma divindade especifica.
O claustro que ficou mais famoso na História devido a sobrevivência até os dias atuais de informações sobre ele é o da cidade de Sippar, dedicado especificamente ao deus Shamash, que era cercado por muros e continha centenas de casas, um celeiro, um edifício administrativo e terras agrícolas.
Ironias não faltam sobre esse claustro mesopotâmico. As mulheres que o compunham mantinham-se durante a vida ligadas a ele, porém, tinham vidas próprias, inclusive administravam negócios e terrenos, algo inacessível ao restante das mulheres da sua sociedade. Ao contrário do restante das mulheres mesopotâmicas, cujos bens da casa paterna para elas eram dados aos seus maridos em forma de dote, as naditus ficavam com eles e os administravam ao seu bel prazer. Era esperado que a naditu devolvesse seus bens e riquezas ao fim da vida à sua família paterna, porém, ela podia adotar na velhice uma menina para cuidar dela e a suceder como naditu e, consequentemente, herdar seus bens. Elas eram fundamentais para a as suas cidades sendo importantes religiosas, comerciantes, emprestadoras de dinheiros e bens, donas de terras, escribas.
Estaria
mentindo aqui se afirmasse que essas mulheres eram 100% livres. Elas não podiam
ter filhos em alguns claustros (no de Sippar não podiam, mas no da Babilônia
podiam) e a sua sexualidade era reprimida, como podemos ver no Código de
Hamurabi que, no seu artigo 110, previa a punição às naditus que fossem frequentadoras de tabernas (lugar onde ocorriam
encontros sexuais) com a morte por fogo. Além disso, com o tempo, as naditus perderam o direito de serem
governadas por uma das suas, passando o claustro a ser administrado por um home
nomeado pelo rei.
Porém,
é inegável: o gagûm era o claustro da
liberdade. As naditus foram
felizardas, pois tiveram uma vida com muito mais liberdade, autonomia e
reconhecimento pela sociedade que, infelizmente, todo o restante das mulheres
mesopotâmicas e grande parte das mulheres ao longo da História que tiveram seu
direito à voz, vida e viver como quisessem negados pelas sociedades machistas
em que viveram.
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